segunda-feira, 8 de julho de 2013

Mirage IIIEBR - O caçador Mach 2 da FAB por excelência

Apesar de recentemente outro delta "Mach 2" ter passado por Anápolis, pelo menos para este blogueiro que vos escreve, "o" Mirage será sempre sinônimo de Mirage IIIEBR. Nada contra o irmão mais novo. Ainda farei perfis dele, mas devemos respeito ao bom e velho "Jaca".

A exemplo do post que fiz sobre os Xavante na FAB, comecei uma nova linha de perfis do Mirage IIIEBR na Força Aérea Brasileira.

Anos 2000

Inicio, entretanto, pelo último padrão de pintura dos F-103 (como eram conhecidos por aqui). Para mim essa foi a pintura que mais representou seu papel no 1º Grupo de Defesa Aérea (1º GDA). Este padrão foi aplicado no início dos anos 90 e permaneceu até sua retirada em serviço em 2005. O detalhe fica por conta do código de cauda "AN" ter sido coberto a partir de 2003. Portanto, o perfil a seguir representa uma aeronave operada entre 2003 e 2005.

Caça Dassault Mirage IIIEBR (F-103E) do 1º GDA baseado em Anápolis - GO em 2005.
Esta foi a última pintura desse venerável pássaro.

FAB 4931 em 2003. Notar área pintada sobre código de cauda "AN".
Na ocasião do TAC em 2003, nem todas as aeronaves haviam
tido seus códigos de cauda ainda pintados. Foto: Marcelo Ribeiro

Mirage IIIEBR 4931 em foto de 2003. Note a pintura
desgastada e com áreas clareadas. Foto Marcelo Ribeiro


Logo antes, voltando na linha cronológica do período de utilização dos Mirage IIIE na FAB, temos o mesmo esquema de pintura anterior, porém ainda com o código "AN" na cauda representando a Base Aérea de Anápolis, sede do 1º GDA. Esta pintura começou a ser empregada em meados dos anos 90 e continuou até 2003. O perfil abaixo ilustra a aeronave FAB 4916 em 2001.

Mirage IIIEBR (F-103E) do 1º GDA com o código de cauda "AN" em pintura de 2001.

FAB 4926 em foto de 2003 durante o Torneio de
Aviação de Caça realizado na BACO. Foto Marcelo Ribeiro

Dentro deste período, ainda nos anos 90 e possivelmente por volta de 1996, 1997, algumas aeronaves receberam a indicação do piloto e sargento aplicados na lateral esquerda do nariz, logo acima da numeração (sem documentação para a aplicação no outro lado). Esta prática não aparece em aviões fotografados a partir do ano 2000.



Nesta aeronave, notar o grande desnível entre a pintura do radome do radar e o restante da aeronave. O nariz deste Mirage aparentemente estava no FAB 4916 no momento da pintura. Na primeira foto, acima, o nariz do FAB 4916 parece ser o nariz original do 4927. Fotos Fábio Rosa.

Anos 90

Ao voltarmos um pouco mais no tempo, entramos e uma das áreas mais obscuras da história das pinturas dos Mirage IIIE na FAB. Trata-se do período em que os Jaguares levaram camuflagem em cinza escuro (rapidamente clareada, queimada e manchada pelo fortíssimo sol de Anápolis), mas com letras e números em branco.

Imediatamente antes da pintura anterior os Mirage IIIEBR levaram marcações em branco praticamente nas mesmas posições da pintura com algarismos em preto ilustrados acima. As palavras "Força Aérea Brasileira" eram aplicadas no meio da fuselagem, porém um pouco mais abaixo da posição encontrada no esquema mais recente, em preto. O período de utilização deste esquema também é incerto, mas acredito que seja entre 1994 e 1996. (ainda a ser confirmado)

A foto abaixo ilustra do FAB 4914 com este padrão de pintura, que, na minha opinião, é o mais bonito já utilizado pelos Jaguares em todos os tempos.

FAB 4914 com pintura cinza azulado FS 36118 nas superfícies superiores e cinza claro FS 36293. Notar o perfil do Jaguar no topo da deriva e as linhas em vermelho nas asas e nas bordas das entradas de ar. Fonte: Revista Veja.

O FAB 4913 também recebeu este padrão de pintura, com a divisão entre as cores bem definida e ondulada, comprovada pela imagem abaixo, datada de 1995:

Mirage IIIEBR 4913 pintado em cinza escuro com marcações em branco e "Força Aérea Brasileira" aplicada na fuselagem. Foto Fábio Rosa.

Neste mesmo período, pelo menos uma aeronave, a 4928, esteve pintada no padrão cinza com letras brancas, porém sem a inscrição "Força Aérea Brasileira" na fuselagem e com a numeração na porta do trem de pouso em branco, em uma variação à aplicação em preto. Este padrão esteve ativo com toda certeza em Outrubro de 1995, conforme a foto abaixo:

FAB 4928 em foto de 1995, com marcações em branco e ausência da inscrição "Força Aérea Brasileira" na lateral da fuselagem. Foto Fábio Rosa.

Voltando um pouco mais, encontramos uma pintura levemente diferente da comentada anteriormente. O esquema Cinza + marcações em branco era sutilmente distinto, com a inscrição "Força Aérea Brasileira" aplicada abaixo do canopi e não na fuselagem.

Há fotos de aeronaves com este tipo de marcação tanto com os canards quanto sem a presença dessas aletas incluídas após a modernização dos caças no começo dos anos 90. Os modelos com os canards e com inscrições em branco muito provavelmente voaram assim entre 1993 e 1996, como possivelmente tenha sido o caso do FAB 4927.

Jaguar com esquema utilizado entre 1993 e 1996 pelo menos. Não foi possível, por enquanto, enquadrar com exatidão a o uso deste padrão nos Mirage IIIE/DBR. Sabe-se. entretanto, que aeronaves fotografadas em 1993 e em 1995 ostentavam este esquema de pintura juntamente com o canard.

As imagens abaixo, retiradas de um programa de televisão veiculado em 1993 ilustram este padrão em cinza e branco + canards.




Notar nesta imagem de 1993 que as letras do estêncil
"Força Aérea Brasileira" possuem um vazado muito fino.




Na foto a seguir, o 4927 ostenta o mesmo esquema de pintura apresentado nos frames de vídeo postados acima. Entretanto, o "F" da inscriçaõ Força Aérea Brasileira está mais desgastado, sendo posivilmente posicionado após 1993, talvez 1994 ou 95.

FAB 4927 na Base Aérea de Anápolis após 1993, possivemente em 94 ou 95. Foto Fábio Rosa.

Abaixo, mais uma imagem que ilustra o esquema utilizado entre 1993 e 1996, com a inscrição "Força Aérea Brasileira" abaixo do cockpit de outro Mirage:

Mirage IIIEBR 4929 com pintura utilizada entre 1993 e 1995. Notar a saliência aerodinâmica na parte inferior da fuselagem frontal, algo presente apenas nas versões biplaces do Mirage. Foto Fábio Rosa.

Ainda no padrão "branco c/ canard", temos o exemplo da FAB 4910, que viria a sofrer um acidente em 1996 e condenado para operações aéreas. Esta aeronave foi posteriormente pintada de forma comemorativa no primeiro padrão de pintura dos Mirage III na FAB e conservada na BAAN.

FAB 4910 em foto tirada em 1996. Neste período, tanto aeronaves com as inscrições "Força Aérea Brasileira" abaixo do cockpit quanto no meio da fuselagem voaram ao mesmo tempo na FAB. 



Elemento de Mirages comprova que, pelo menos por um período, em 1996, três tipos de esquemas de marcações cobriam caças F-103 da FAB (Além das duas variações acima, há fotos nesta página que mostram aeronaves com um terceiro tipo de pintura no mesm período). Há uma grande possibilidade de nem todos os aviões terem recebidos todos os padrões. Foto Fábio Rosa.
Acidente do FAB 4910 em 1996. Fotos Fábio Rosa.



Já o padrão abaixo, muito semelhante ao anterior, mas com algumas pequenas diferenças, como a ausência do perfil do Jaguar no topo da deriva e por ser aplicada em uma aeronave ainda não modernizada (sem canards), certamente pode ser encaixada como em uso entre 1989 e 1991 como possivelmente tenha sido o caso do FAB 4919.

Mirage IIIEBR com pintura utilizada no final dos anos 80 e começo dos anos 90. Notar a ausência do canard acima da entrada de ar e uma pintura bastante desgastada e manchada.

Mirage IIIEBR 4919 em uma foto de 1990.
(Foto: Felipe C. Miranda)

(Autor Desconhecido. Se vc é o autor ou conhece quem é o autor dessa foto basta indicar que será creditado imediatamente)


Anos 80

Ao voltarmos um pouco mais no tempo, seguindo a linha de existência do Mirage IIIE na FAB, chegamos aos primeiros padrões de pintuira camuflada deste caça no Brasil.

Imediatamente antes do padrão com marcações em branco e código "AN" na cauda, nossos Mirage ostentaram um padrão que podemos chamar de "transição" entre a pintura original, recebida da França, e o esquema de camuflagem e marcações com os quais encerrou sua longa carreira na linha de frente da aviação de caça da Força Aérea Brasileira.

Cores oficiais dos Mirage III camuflados da FAB. (Fonte: OTMA-FAB) 

Em meados dos anos 80, entre 1986 e 1988/89, os Mirage IIIE/D da FAB eram pintados em dois tons de cinza com marcações em preto. Levavam o desenho de uma cabeça de jaguar no meio do estabilizador vertical, números em preto e, no leme, duas faixas com as cores nacionais (verde e amarelo). Essas cores cobriam apenas a parte central do leme. As asas levavam as estrelas da FAB nas quatro posições.

A diferença principal entre esta pintura e a pintura mais antiga (que veremos mais à frente no texto) é a aplicação da estrela da FAB na fuselagem.

Mirage IIIEBR com o padrão "Cabeça de Jaguar + estrela". (Fonte: Revista Veja)

O esquema de marcações imediatamente anterior levava no lugar da estrela na fuselagem a inscrição "1° GDA" em preto. Não havia nenhuma outra marcação na fuselagem além do triângulo vermelho indicando o assento ejetável.

(Fonte: Acervo FAB)


Anos 70

Dando um passo em direção ao passado encontramos os Mirage IIIEBR pintados em alumínio. Esta foi a pintura inicial dos caças franceses ao chegaro ao Brasil no início dos anos 70 (Os primeiros Mirage chegaram ao Brasil em 1972).

Mirage IIIEBR 4914 como visto em 1973, ano de sua chegada ao Brasil.


Em Breve: Mais sobre a pintura inicial e as exceções às regras.


10 comentários:

Ricardo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ricardo disse...

Só para acrescentar um registro: lá em cima, na foto do 4914 (Revista Veja), é provável que a foto seja de 1993, uma vez que o escudo da VI FAe ainda está aplicado na entrada de ar do lado direito. Como de costume, aconteceu uma certa demora na colocação do símbolo da III FAe ao longo de 1994.
Na foto logo abaixo (4913, julho de 95), observe que foi aplicado o emblema antigo do GDA (com listel), cobrindo o da VI FAe. Isso sim é curioso, pois eu me recordo de ver o F-103 com marcações brancas, com o escudo da III FAe ou sem escudo nenhum.
Parabéns pelo levantamento preciso das marcações aplicadas nos Mirage III da FAB.

Ricardo disse...

Atualizando o comentário a respeito da foto do 4914 (Revista Veja): dá para ver em primeiro plano um tanque RPK-10 (capaz de transportar 500 litros de combustível e até quatro bombas Mk 82/BAFG 230), o que indica que a foto deve ser de 1995, ocasião em que os F-103 foram configurados para missões ar-solo. A peculiaridade está na manutenção do distintivo da VI FAe, já que ela foi extinta na virada de 1993/1994, ficando o GDA absorvido pela III FAe.

Outra peculiaridade é a foto logo abaixo do 4913 (julho de 1995), em que se vê o distintivo antigo do GDA (com listel) no lugar do escudo da VI FAe. Nesse ano havia Mirages já com a insígnia nova (III FAe) ou mesmo sem distintivo nenhum na entrada de ar. Possivelmente esse foi um recurso empregado para cobrir a insígnia antiga, até que houvesse repintura total da aeronave.

Finalmente, parabéns pelo excelente trabalho envolvendo as marcações do Mirage III no Brasil, é realmente uma ótima referência.

Ricardo disse...

Atualizando o comentário a respeito da foto do 4914 (Revista Veja): dá para ver em primeiro plano um tanque RPK-10 (capaz de transportar 500 litros de combustível e até quatro bombas Mk 82/BAFG 230), o que indica que a foto deve ser de 1995, ocasião em que os F-103 foram configurados para missões ar-solo. A peculiaridade está na manutenção do distintivo da VI FAe, já que ela foi extinta na virada de 1993/1994, ficando o GDA absorvido pela III FAe.

Outra peculiaridade é a foto logo abaixo do 4913 (julho de 1995), em que se vê o distintivo antigo do GDA (com listel) no lugar do escudo da VI FAe. Nesse ano havia Mirages já com a insígnia nova (III FAe) ou mesmo sem distintivo nenhum na entrada de ar. Possivelmente esse foi um recurso empregado para cobrir a insígnia antiga, até que houvesse repintura total da aeronave.

Finalmente, parabéns pelo excelente trabalho envolvendo as marcações do Mirage III no Brasil, é realmente uma ótima referência.

Marcelo R. disse...

Olá Ricardo!

Ótima contribuição!! Muito obrigado pelas informações. Aos poucos vamos chegando a um relatório bem preciso dessa magnífica aeronave nas cores da FAB.

Abraços!

Marcelo

Ricardo disse...

Salve Marcelo! Mais um breve comentário: "revisitei" aquela matéria do Globo Repórter, que foi ao ar no final de 1993. O FAB 4922 já apresentava as marcações na cor preta (e possivelmente o "Força Aérea Brasileira" no centro da fuselagem, embora o resto dos F-103 exibisse marcações brancas (com o "Força Aérea Brasileira" logo abaixo do beiral da nacele).
Vou chutar. Acredito que as marcas na cor preta tenham sido usadas experimentalmente naquele avião, foram aprovadas e aplicadas depois de 1996, à medida que os Mirage fossem recebendo repintura em maior escala.
Fora isso, alguns F-103 tinham os dígitos individuais na porta do trem dianteiro na cor branca (sobre fundo cinza-azulado), tal como no período 1989-1991 e outros já os tinham na cor preta sobre fundo cinza claro.
Infelizmente quem servia lá naquela época não lembra desses detalhes, até porque a imensa maioria das pessoas não tem apego a essas sutilezas.

Abraços.

Marcelo R. disse...

Oi Ricardo!

Realmente houve momentos de cruzamento de padrões, algo bastante comum na FAB devido aos períodos diferentes de manutenção e repintura das diferentes aeronaves. Mas seu chute tem muita chance de estar certo realmente. Também chutaria nessa direção.

Mais uma vez obrigado pela contribuição e se identificar mais algum detalhe, fique à vontade para contribuir.

Abraços!

Ricardo disse...

Lembrei de mais algumas coisas. Tem uma foto do 4929, com a carenagem aerodinâmica usualmente vista nos biplaces (F-103D). A explicação para isso foi que o 29 foi o único Mirage a ser testado com a sonda de reabastecimento em vôo (1992/1993) e essas carenagens acomodavam a alimentação de combustível para os tanques. Embora aprovada, a integração do REVO aos Mirage acabou arquivada: a despeito do enorme ganho operacional, entendeu-se que o custo não compensaria, já que a idéia era substituir o avião a partir de 1995 (o resto da história a gente já sabe... mais 10 anos de operação). Tiraram o "probe" do 29 e fim de papo...
Voltando à transição das marcas brancas para pretas. Dá para notar que o tamanho da numeração no nariz e porta do trem dianteiro diminuiu por ocasião da mudança. Quando os dizeres "Força Aérea Brasileira" começaram a ser aplicados na fuselagem (1994/1995), a posição era próxima da junção da asa com a fuselagem, alinhada com os numerais do nariz, o que foi feito na cor branca e depois na cor preta, como você bem mostrou. Depois de 1999, acho, as marcas "Força Aérea Brasileira" subiram um pouco, ficando alinhadas com o canard.
Esgotaram-se os comentários possíveis. rs
Abraços.

Ricardo disse...

Você ainda pretende publicar suas considerações sobre as pinturas iniciais dos F-103 (anos 70 e início dos anos 80)? Abraços!

Marcelo R. disse...

Olá Ricardo, tudo bem?

Pretendo sim, só não consegui parar para fazer isso ainda... Tenho arquivado material neste meio tempo. Algum dia sai :)

Abs!

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